Uma vez por ano, Afligidos (BA) vira a Mônaco do interior da Bahia
Jegue possante se alinha para corrida
Todo mês de novembro, Afligidos, um distrito de São Gonçalo dos Campos, se transforma na Mônaco do interior da Bahia. A pequena vila de 700 moradores recebe, se não a maior, a mais glamorosa corrida de jegues de todo o mundo. Aliás, como diria o Casseta e Planeta, não só do mundo, da Bahia também.
Neste ano, a corrida recebeu mais de 5 mil espectadores, segundo a organização do evento. Foi muito mais prestigiada do que muito jogo do Brasileirão.
Como na Fórmula 1, a corrida é dividida em dois dias. No sábado, ocorre a classificação e no domingo o evento final. Mais de 20 jegues se alinham e somente um volta para a casa com a fama, o prestígio, o título e o prêmio de R$ 1000.
O evento é tão importante para a região de Feira de Santana que já sonha em fazer parte do programa oficial das Olimpíadas do Rio de Janeiro, em 2016. Pelo menos foi isso que disse Antônio dos Santos, um empolgado organizador do evento, a uma emissora de TV.
Seu irmão Celino dos Santos é mais realista. Ele explica que a corrida tem um caráter cultural e é uma demonstração de que o interior do Brasil também sabe fazer eventos divertidos e de qualidade.
- A ideia é a gente tentar crescer e dar um grito de liberdade. Mostrar ao Brasil que a gente existe. Essa é nossa maneira de ser lembrado por todos.
A corrida também é uma maneira de alertar para a preservação dos jegues do interior brasileiro. Santos conta que antigamente os bichos eram mais usados no cotidiano da população. Hoje, os pobres animaizinhos são rejeitados e abandonados nas estradas ao mesmo tempo em que são substituídos por motos.
Por isso Afligidos não aceita a exploração dos jegues.
- Esporas e selas são proibidas. O corredor tem que montar o bicho no pelo. A gente quer preservar a espécie, sem machucá-la.
Após 23 anos da primeira corrida, o evento se tornou semi-profissional. Tem até uma equipe Ferrari que costuma papar todos os títulos.
- O pessoal de São Felipe é mais organizado e vem com vontade. Eles disputam corridas por todo o Nordeste.
A corrida de jegues surgiu como uma brincadeira entre amigos. Tudo começou com Raimundo Brandão, dono de uma fazenda da região. Ele conta que a corrida não tinha a menor pretensão de ser grande.
- Minha fazendinha recebia muitos visitantes. Um vez, estava chovendo e meus parentes estavam montando em jegues. Todo mundo começou a cair. Eu achei aquilo tudo engraçado e surgiu a tradição.
Como todo esporte brasileiro, a corrida de jegues de Afligidos padece de ajuda. A Prefeitura local ajuda um pouco, mas não é suficiente para bancar os gastos. No fim, um junta um dinheiro daqui e outro dali e a corrida acontece. Coisas do esporte nacional de alto rendimento.
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